sexta-feira, 30 de maio de 2014

A Umbanda cura?

A Umbanda cura? Não, ela ajuda as pessoas a se curarem. Tanto física quanto espiritualmente.
A procura pela a Umbanda é normalmente, ocasionada por algum tipo de dor ou sofrimento e habitualmente as pessoas conseguem alguns tipo de graça, não que elas saiam curadas as visitar uma Tenda de Umbanda. Mas elas conseguem algo muito importante, que é o entendimento da sua atual situação.
Ao alcançar essa compreensão, esse entendimento, já facilita a aceitação e essa aceitação faz com que a pessoa comece a se tranquilizar e quando a pessoa se tranquiliza, ela inicia o processo de reequilíbrio energético. E ao reequilibrar suas energias, fisicamente, isso se reflete diretamente no corpo físico, ocasionando muitas vezes a cura de enfermidades materiais.. Mas o reequilíbrio energético também afeta o lado espiritual, pois a tendência para o espírito, que tem sua energia equilibrada, é a evolução. O espírito evoluído, ou em movimento evolutivo, afasta-se naturalmente de energias mais densas, que são estáticas, e o espírito evoluído afasta-se, por afinidade, de espíritos menos evoluídos.
Isso provoca também, uma espécie de cura, não realizada pela Nossa Amada Umbanda, mas muitas vezes, conduzidas por ela.

Rafael d'Ogum

quarta-feira, 28 de maio de 2014

Verdade soberana

Passar adiante o pouco que sabemos, e aprender a cada oportunidade, são momentos que me trazem muitas alegrias. E só o que pode me ensinar, ou melhor, nos ensinar são as diferenças.
Certa tarde estava dialogando com um colega de serviço, sobre a espiritualidade, ele me perguntando como nós Umbandistas entendíamos os Orixás, os Caboclos, enfim, como era nossa relação com essas seres tão especiais que são as entidades.
Esse meu colega é seguidor de uma doutrina africanista, logo o conhecimento é bastante diferente.
Quando falei nas divisões de Orixás maiores e menores, notei um certo ar de reprovação vinda dele. Quando disse que o médium para receber um Orixá menor tem que estar pronto para isso, científica e moralmente, e que seria muito improvável que alguém conseguisse incorporar um Orixá maior, devido a grande diferença energética que existe entre nós e esses seres de altíssima evolução, que o nosso organismo não aguentaria isso. Ele, o meu colega, não se aguentou e contestando-me falou que eu não sabia o que estava falando, já que na casa onde ele frequenta, as pessoas incorporam os Orixás, ainda tentei explicar sobre os elementares, que são espíritos que se apresentam nas vibrações dos Orixás, mas nãos os são, mas vi que iria adiantar de nada.
Nesse episódio, tentei ensinar mas acabei aprendendo, aprendi que ou ele (assim como muitos) não esta pronto para as nossas verdades ou que eu não consegui chegar na verdade dele, ainda.
Depois disso, compreendi, ou me lembrei, que cada um tem a sua verdade e ela, a verdade pessoal, é soberana.

Rafael d'Ogum

segunda-feira, 26 de maio de 2014

A vela certa

Parar na frente do Congá é algo que nos transmite muitas coisas boas, paz, felicidade, tranquilidade, força, etc...
Acender uma vela para algum Orixá, Guia, Mentor, Guardião, Santo ou Anjo da Guarda, nos ajuda a focar nossos pensamentos e a dedicar alguns instantes a esses nossos amigos espirituais.
Na realidade, todo e qualquer ritual, serve para que possamos reorganizar nossas mentes, reequilibrando nossas energias.
Mas quando compreendemos que esses Congás físicos uma hora vão ser desmontados, que essas velas materiais, com certeza vão acabar ou apagar. Aprendemos a focar no lado de dentro, na essência da alma.
É importante criarmos o hábito de montar um congá interior, organiza-lo da forma mais bela que a nossa alma pode conceber, enfeita-lo da forma com os mais lindos e simples ornamentos que possamos imaginar e cruza-lo com o mais puro sentimento de amor e respeito. E nele sim, acender velas, pois assim, estaremos começando a iluminar nossos caminhos e nossas vidas. Nossos Orixás, Guias, Mentores, Guardiões, Santos,e/ou Anjos da Guarda, não dão muita bola para a luz da vela física, mas sim, para a luz que transmitimos das nossas velas interiores.

Irmãos, iluminemo-nos.

Rafael d'Ogum

sábado, 24 de maio de 2014

Ser Cigano

Ser cigano (a) é sorrir e cantar mesmo quando a opressão dos preconceituosos bate a sua tenda.

Ser cigano (a) é sorrir na chuva e agradecer todos os dias por estar vivo e poder cantar e dançar em torno da fogueira.

Ser cigano (a) e ser livre e ter a certeza que felicidade mesmo é poder gritar OPTCHÁ!

Ser cigano (a) é ter no coração um caminho de luz;

É sentir na alma uma estrela;

É ter o mar sua companhia;

É compreender o amor em sua harmonia;

É ser livre dos pensamentos negativos,

Porém preso aos pensamentos positivos.

Ser cigano (a) é ter o céu como seu teto, a terra como sua casa e a liberdade como sua religião.

Ser cigano (a) é...

Sentir a liberdade ao caminhar com os pés descalços, expressar os sentimentos no bailar livre, louvar a natureza e seus elementos, orar para que Santa Sara sempre nos cubra com seu manto sagrado confiando-lhe nossa vida e sabedoria...

Por Cigana Sarita

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Mediunida é coisa séria

As faculdades mediúnicas são ferramentas que devem ser usadas, com consciência e respeito. Incorporar, psicografar, psicofonar, não são exercícios difíceis de ser praticados, e sinceramente, depois de certo tempo de prática, não é necessário muito para isso. Sempre que for necessário, o médium pode tentar, e muitas vezes conseguir o contato com seus guias e mentores, para receber uma orientação, que poderá facilitar, ou pelo menos amenizar alguma dúvida. Mas é algo que deve ser sempre posto na balança do bom senso. Nenhum médium tem o direito de tentar viver suas vidas explorando essas faculdades que são tão maravilhosas. 
O medianeiro, deve manter-se sempre em sintonia com o alto, e por isso, se quiser se livrar das armadilhas da vida, sempre utilizando dessa "arma", uma hora seus próprios Guias e Mentores, não se farão presente, e o médium poderá começar a ser acompanhado por espíritos menos evoluídos e menos preocupados com a evolução do próprio médium.
Então sempre é bom ter o cuidado, colocando cada pedido de passagem, ou de mensagem, em uma balança para vermos se realmente será positivo esse contato. 
Chega a ser constrangedor, quando uma pessoa do nada pede para você, que é médium, pedir algo, fazer algo ou "descobrir" algo, utilizando de sua mediunidade. Pois a maioria das vezes são coisas absurdamente absurdas, mas mesmo assim pedem para você. Nesse momento, devemos prestar atenção, pois não podemos negar ajuda, a ninguém, mas devemos estar cientes de que há outras formas de ajudar. E a ninguém virar as costas. Mas somos ferramentas do alto, e se quisermos continuar sendo, temos que aprender e ensinar a respeitar.
A frase do Caboclo Mirim pode muito bem orientar nessa situação.
"A Umbanda é coisa séria, para gente séria."
Podemos entender também.
"A Mediunidade é coisas, devemos ser sérios."

Paz e Luz

Rafael d'Ogum

terça-feira, 20 de maio de 2014

Nenhuma pataca paga

Cobrar pelo atendimento espiritual, é algo que para mim, não faz o menor sentido. Alem da explicação doutrinária que afirma que "a Umbanda é a manifestação do espírito para a caridade."
Também lembramos dos ensinamentos de Nosso Mestre Jesus, o Cristo,, que sentenciou: "Dai a Cesar o que é de Cesar e dai a Deus o que é de Deus".
Vem a cabeça, também, a orientação passada pelos Guias de nossa Tenda, que determinaram: "Se entrar recompensa material, o Apoio Espiritual se retira."
Informações para balizar nossas condutas, principalmente nesse sentido não nos falta. Mas nem todo mundo segue e compreende dessa forma, o livre-arbítrio nos da a liberdade para fazermos o que acharmos melhor para nós.
Só que colocar preço no atendimento, faz com que essa ajuda, que deveria ser caritativa, se torne profissional, corre-se o risco de transformarmos algo essencialmente puro no sentimento de ajudar o próximo em algo extremamente frio e sem essência.
Nenhum valor monetário, jamais pagará o valor afetivo e sentimental que se alcança, quando se vê uma pessoa que realmente consegue solucionar seus problemas, responder suas perguntas, auxiliada por quem fez o que fez, de coração e sem querer absolutamente nada em troca.
Nenhuma Pataca paga a CARIDADE.

Rafael d'Ogum

terça-feira, 13 de maio de 2014

Linha de Preto Velho

Na Umbanda os Pretos velhos são homenageados no dia 13 de maio, data que foi assinada a Lei Áurea, a abolição da escravatura no Brasil.

Pretos velhos ou Pretos-velhos são entidades de umbanda, espíritos que se apresentam em corpo fluídico de velhos africanos que viveram nas senzalas e que adoram contar as histórias do tempo do cativeiro. Sábios, ternos e pacientes, dão o amor, a fé e a esperança aos "seus filhos".

O preto velho, na umbanda, está associado aos ancestrais africanos, assim como o caboclo está associado aos índios e o baiano aos imigrantes nordestinos.

São entidades que tiveram pela sua idade avançada, o poder e o segredo da sabedoria, apesar da rudeza do cativeiro demonstram fé para suportar as amarguras da vida, consequentemente são espíritos guias de elevada sabedoria, trazendo esperança e quietude aos anseios da consulência que os procuram para amenizar suas dores, ligados a vibração de Omolu, são mandingueiros poderosos, com seu olhar prescrutador sentado em seu banquinho, fumando seu cachimbo, benzendo com seu ramo de arruda, rezando com seu terço e aspergindo sua água fluidificada, demandam contra o baixo astral e suas baforadas são para limpeza e harmonização das vibrações de seus médiuns e de consulentes.

A característica desta linha, devido a elevação espiritual de tais entidades, é o conselho e a orientação aos consulentes, são como psicólogos, receitam auxílios, remédios e tratamentos caseiros para os males do corpo e da alma.

Os pretos velhos se apresentam com nomes que individualizam sua atuação, do Congo ou de Angola, evidenciando sua atuação propriamente dita e procedência. Em sua linha de atuação eles apresentam-se pelos seguintes codinomes, conforme acontecia na época da escravidão, onde os negros eram nominados de acordo com a região de onde vieram:
Congo (Pai Francisco do Congo) – refere-se a pretos velhos ativos na linha de Iansã;
Aruanda (Pai Francisco de Aruanda) – refere-se a pretos velhos ativos na linha de Oxalá. (OBS: Aruanda quer dizer céu);
D´Angola (Pai Francisco D´Angola) – refere-se a pretos velhos ativos na linha de Ogum;
Matas (Pai Francisco das Matas) – refere-se a pretos velhos ativos na linha de Oxóssi;
Calunga, Cemitério ou das Almas (Pai Francisco da Calunga, Pai Francisco do Cemitério ou Pai Francisco das Almas) – refere-se a pretos velhos ativos na linha de Omolu/ Obaluaê;

Entre diversas outras nominações tais como: Guiné, Moçambique, da Serra, da Bahia, etc… Muitos Pretos velhos podem apresentar-se como Tio, Tia, Pai, Mãe, Vó ou Vô, porém todos são Pretos velhos.

ADOREI AS ALMAS!!! SALVE OS PRETOS VELHOS DE UMBANDA!!!

domingo, 11 de maio de 2014

Oração dos Preto-Velhos

“Senhor, Nosso Pai, que sois o Poder, a Bondade, a Misericórdia, olhai por aqueles que acreditam em Vós e esperam por vossa bondade, poder e misericórdia. Dá Pai, aos que vacilam ao Vosso Poder, na Vossa Misericórdia e Bondade, a clareza de pensamento e abri-lhes, Senhor, os olhos para que pratiquem sempre o bem, a caridade para com os outros dentro da humildade de Vossa Sabedoria, reconhecendo assim a Vossa Existência, Poder e Misericórdia, bem assim, o Vosso Reino. Senhor, perdoa aqueles que a escuridão ainda não deixou ver os erros cometidos na sua passagem terrena. Dá, Senhor, a eles que sofrem a luz de Seu imenso Amor e da Sua Sabedoria. Que a sua luz nos ilumine neste mundo e em outros que ainda desconhecemos, e em todos os lugares por onde passarmos nos proteja. Oh ! Meu Pai Santíssimo !! A nós pecadores, aceita o nosso arrependimento dos erros que temos cometido. Pai, pela sua sagrada bondade e paixão, consenti que caminhe até vós pelo caminho da perfeição. Dá Senhor, orientação perfeita no caminho da virtude, único caminho pelo qual devemos trilhar. Misericórdia aos nossos inimigos. Perdão a todos os nossos erros, e que Vossa Bondade não nos falte hoje e sempre… Amém”.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Oxalá e Exu

O céu e a terra fundiam-se no horizonte distante, parecendo uma coisa só, como se não houvesse separação entre o mundo espiritual e o material, a consciência individual e a cósmica. 

Sentado sobre uma pedra em uma enorme montanha, de cabeça baixa e olhos apenas entreabertos, Exu observava o fenômeno da natureza e refletia sobre o seu interminável trabalho. 

_Como é difícil a humanidade – pensou em certo momento – parece nunca estar satisfeita, está sempre querendo mais e, em sua essência egoísta desarmoniza tudo, tudo... Tudo que era para ser tão simples acaba tão complicado.

Com os olhos habituados a enxergar na escuridão e na distância, Exu observou cada canto daqueles arredores. Viu pessoas destruindo a si mesmas através de vícios variados, viu maldades premeditadas e outras praticadas como se fossem atos da mais perfeita normalidade. Viu injustiças, principalmente contra os mais fracos e indefesos. Com seus ouvidos, também atentos a tudo, ouviu mentiras, palavras de maledicência, gritos de ódio e sussurros de traição.

Exu suspirou.

_Serei eu o diabo da humanidade? – pensou ironicamente, ao lembrar o quanto era associado à figura do demônio. Passou horas observando coisas que estava habituado a ver todos os dias: mentiras, fraudes, corrupção, traições, inveja, e uma gama enorme de sentimentos negativos.

Foi quando estava imerso nesses pensamentos que Exu ouviu uma voz ao seu lado, dizendo naquele tom austero, porém complacente:

_Laroyê, Senhor Falante.

Exu ergueu os olhos e vislumbrou a figura altiva de Oxalá.

_Èpa Bàbá – respondeu Exu, fazendo um pequeno movimento com a cabeça, em sinal de respeito.

_Noto que está pensativo, amigo Exu – falou Oxalá. 

Exu respirou fundo, contemplou novamente o horizonte e respondeu:

_Trabalhamos tanto... e incansavelmente, mas os homens parecem não valorizar nosso esforço.

Oxalá moveu os lábios para dizer algo, mas antes que isso acontecesse, Exu, como que prevendo o que seria dito, continuou:

_Não falo em tom de reclamação, sou um trabalhador incansável e o amigo sabe disso. É com prazer que levo o que tem ser levado e retiro o que deve ser retirado. É com satisfação que abro ou fecho os caminhos, de acordo com a necessidade de cada um, é com resignação que acolho sobre minhas costas largas a culpa do mal que muitos espíritos encarnados e desencarnados fazem, não reclamo do meu trabalho. Sou Exu, para mim não existe frio ou calor, cansaço ou preguiça, existe apenas a necessidade de cumprir a tarefa para qual fui designado.

_Se mostra tão resignado e, no entanto, parece que deixa-se abater pelo desânimo – comentou Oxalá, apoiando-se em seu paxorô.

Exu soltou uma gargalhada, ao que Oxalá deu um leve sorriso, com um movimento quase imperceptível no canto direito dos lábios.

_Não sou resignado nem tampouco estou desanimado – falou Exu – estou pensativo sobre pouca inteligência dos homens. Veja só: como responsável pela aplicação da Lei Cármica observo muita coisa. Observo não apenas o sofrimento que alguns homens impõem a si mesmos, mas vejo também as incessantes oportunidades que o Universo dá a cada um dos seres que habitam a Terra. O aprendizado que tanto precisam lhes é dado por bem, mas quase nunca enxergam pelo amor, então lhes é dada a oportunidade de aprender pela dor, mas geralmente só lembram a lição enquanto a dor está a alfinetar sua carne. Com o alívio vem o esquecimento e todos os erros e vícios voltam a aflorar.

Oxalá fez menção de dizer algo, mas com o dedo em riste entre os lábios, novamente Exu o impediu de falar.

_Ouça – disse Exu, colocando a mão em concha na orelha, como se ele e Oxalá precisassem disso para ouvir melhor. E ambos ouviram o som que vinha da Terra. O som da inveja, dos maus sentimentos, da maledicência, da promiscuidade, da ganância. Exu deu outra gargalhada e disse:

_Percebe? Temos trabalho por muitos séculos ainda.

_E isso não é bom? – perguntou Oxalá, que dessa vez não deixou Exu responder e continuou:

_Pobres homens, ignorantes da própria grandeza espiritual e da simplicidade do Universo. Se não desconhecessem tanto o funcionamento das coisas, seriam mais felizes.

_Não estão preocupados em discernir o bem do mal – resmungou Exu.

_E você está, Senhor Falante? – tornou Oxalá. 

Mais uma vez Exu gargalhou.

_Para mim não existe o bem ou o mal. Existe o justo, bem sabe disso.

_Então por que tenta exigir esse discernimento dos pobres homens?

_Eu conheço os caminhos – respondeu Exu um tanto irritado – para mim não existem obstáculos, todos os caminhos se abrem em encruzilhadas. Para mim as portas nunca se fecham e as correntes nunca prendem. Conheço o sutil mistério que separa aquilo que chamam de bem daquilo que chamam de mal. Não sou maniqueísta, não sou benevolente, pois não dou a quem não merece, mas também não sou cruel, pois sempre ajo dentro da Lei. Os homens, coitados, acreditam na visão simplista do bem e do mal, como se todo o Universo, em sua “complexa simplicidade” se resumisse apenas entre o bem e o mal. 

_Pobres homens – repetiu Oxalá.

_Pobres homens – concordou Exu – mesmo olhando o Universo de uma forma tão simplista, dividido apenas entre bem e mal, acabam sempre demonizando tudo, achando que o mal é o melhor caminho para conseguir o que desejam ou então acreditam que são eternas vítimas do mal. E o que é pior, quase sempre eu é que sou o culpado.

_Mas é você o responsável pelo mal? – perguntou Oxalá, admirando o horizonte.

_Sou justo, apenas isso – respondeu Exu.

_Não seria a justiça uma prerrogativa de Xangô? – tornou o maior dos orixás.
Exu olhou fundo nos olhos de Oxalá e respondeu:

_Estou a serviço do Universo, de cada uma das forças que o compõe, inclusive do Senhor da Justiça.

_Isso significa que trabalha em harmonia com o Universo, caro Exu?

_Imaginei que soubesse disso – respondeu Exu, irônico como sempre.

_Acho que sempre soube. Quando observo o horizonte e vejo o céu fundindo-se à Terra, percebo o quanto o material pode estar ligado ao espiritual. Mas também lembro que o sol vai raiar e acredito que apesar de todas as dificuldades que os próprios homens criam, é possível acender a chama da fé em seus corações. Percebo o quanto eles são falhos, mas percebo também o quanto são frágeis e precisam de nós – e nesse momento pousou a mão sobre o ombro de Exu – sejam dos que trabalham na luz ou na escuridão, pois tudo faz parte do Uno e se inter-relacionam. O mesmo homem que hoje está nas profundezas mais abissais, amanhã pode ser o mensageiro da luz.

Exu olhou para os olhos de Oxalá, como se não estivesse concordando, mas dessa vez foi Oxalá quem não deixou que o outro falasse, prosseguindo com sua narrativa:

_Se não fossem os valorosos guardiões que trabalham nas regiões trevosas, dificilmente os que ali sofrem um dia alcançariam o benefício da luz. Se houvesse apenas a luz, não haveria o aprendizado, que tem como ponto de partida o desconhecimento, as trevas. O Universo tão simples é ao mesmo tempo tão inteligente, que mesmo nós, que observamos os homens a uma distância grande, às vezes nos surpreendemos com sua magnitude. Os homens são frutos que precisam amadurecer e você, amigo Exu, é a estufa que os aquece até o ponto certo da maturação e eu sou a mão que os colhe como frutos amadurecidos.

_Quem diria que trabalhamos em harmonia? – disse Exu em meio a um sorriso – acreditam que vivemos a digladiar quando na verdade trabalhamos em busca de um mesmo objetivo: o aprimoramento da raça humana.

Oxalá só não soltou uma gargalhada porque não era esse seu hábito (e sim o de Exu), mas disse sem conseguir esconder o contentamento:

_Então, companheiro Exu, não temos porque lamentar. A ignorância em que vivem os homens é sinal de que ainda temos trabalho a realizar. A pouca sabedoria que possuem significa que ainda estão muito próximos ao ponto de partida e cabe a nós, não importa se chamados de “direita” ou “esquerda”, auxiliá-los em sua caminhada, que é muito longa ainda. Apenas contemplar as mazelas dos corações humanos não irá auxiliá-los em nada. Sou a luz que guia os olhos da humanidade e você é o movimento que não a deixa estática. Se pararmos por um segundo sequer, atrasaremos em séculos e séculos o progresso da raça humana, que tanto depende de nós.

Nesse momento o sol começou a raiar timidamente no horizonte, separando o céu e a Terra. Exu levantou-se da sua pedra e se pôs a caminhar montanha abaixo.

_Aonde vai, Senhor Falante? – perguntou Oxalá, como se não soubesse.

_Vou trabalhar, Senhor dos Orixás – respondeu Exu gargalhando novamente – Esqueceu que sou um trabalhador incansável e que trabalho em harmonia com o Universo, mesmo que ele me imponha a luz do sol?

Oxalá não respondeu, mas esboçou um sorriso tímido. Assim trabalhava o Universo: sempre em harmonia. Os homens, mesmo ainda presos a tantos conceitos primários, trilhavam os primeiros passos em direção ao progresso, pois não estavam órfãos de seus orixás e protetores.